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 Passando pela Avenida Paulista, é fácil localizar esses pontos de comida expressa alocadas em trailers. É o caso do Black Bull, food truck especializado em hambúrgueres artesanais que costuma bombar aos domingos com a avenida fechada para a circulação de carros e motos, quando as pessoas roubam a cena. Segundo Thiago Cesaro, de 20 anos, funcionário do Black Bull, os food trucks vem perdendo força, mas que ainda assim são opções que as pessoas procuram para se alimentar em comunhão e conversar, caracterizando-se então como uma refeição tradicional nos moldes 2.0.

   Apesar dessa visão, é de se questionar se o sucesso dos food trucks se deu realmente por isso. Conversando com grupos de pessoas que costumam frequentar esses locais, foi possível encontrar opiniões bem diversas das de Thiago. Para Gil Tatson, de 23 anos, estes estabelecimentos de alimentação são procurados pelo mesmo motivo que os aplicativos já citados nessa reportagem, que simplesmente oferecem comida rápida e de qualidade, uma vez que os

METAMORFOSES À MESA

Anderson Teixeira

Sobre o Autor

metamorfoses

Transformação

   Com 36 anos de idade, Fernanda Lima sente na pele a metamorfose pela qual a maioria dos brasileiros vem passando ao sentar à mesa. Acostumada com famílias reunidas nos cafés da manhã e no jantar durante a semana e coma sacralidade do almoço de domingo, ela descreve como horríveis as experiências interpessoais dentro de sua casa hoje.“Antes a gente conversava, dava risada, era um momento de união mesmo. Até porque não tinha essa tecnologia, né? Era verdadeiro, agora simplesmente não existe diálogo”, desabafa.

   Mais importante do que saborear a comida, o foco estava na comunhão. No Japão, por exemplo, a cerimônia do chá é um ritual milenar que envolve o ato como ator principal, deixando o sabor do alimento em segundo plano, até porque muitas vezes ele é extremamente amargo e impopular. “Na minha época as pessoas tinham que tirar o boné, colocar a camisa e respeitar a hora do almoço ou da janta, hoje em dia

                                                                     ninguém liga para mais nada”, lembra Valdinei da Silva, de 43 anos.

   A tecnologia transformou o modo do brasileiro sentar à mesa. Mas nem tudo deve ser encarado como ruim, enquanto tornou-se comum as pessoas comerem com os olhos grudados em telas de smartphones, alguns aplicativos também transformaram a alimentação de muitas pessoas.

SAÚDE E “ALIMENTAÇÃO DIGITAL”

   “Ao dividir atenção da comida com o celular, corpo e mente não compreendem o processo de maneira adequada e as pessoas estão cada dia mais insatisfeitas. O prazer em comer fica interceptável quando o cliente está lendo sobre algo que quer fazer ou fofocando com o amigo no celular. E isso faz com que a pessoa fique sempre buscando maiores prazeres em comer, mas nunca aprecia o momento do consumo”, é o que diz o nutricionista Rodolfo Scatolon, criador e coordenador de projetos de emagrecimento e vida saudável das cidades de Limeira e Campinas, no interior de São Paulo.

AGORA SIMPLESMENTE NÃO EXISTE DIÁLOGO

  Rodolfo frisa a teoria de que, com o passar do tempo, a saciedade após as refeições vem diminuindo, causando um aumento no número de refeições que podem acarretar problemas de saúde como colesterol, diabetes e obesidade.  Na opinião do nutricionista, a internet pode ser aliada ao criar uma proximidade entre profissionais sérios do universo da nutrição com pessoas que não tem condições de ir até estes especialistas regularmente. Por outro lado, é aí também que mora o perigo, quando se confia demasiadamente nas palavras e receitas de pessoas que não possuem as devidas credenciais para abordar o assunto em questão,  por possuírem os status

de pessoa pública e carregar verdadeiras legiões de fãs que copiam suas rotinas.

   Do outro lado dessa faca de dois gumes, estão os aplicativos criados para facilitar o cotidiano das pessoas, que afetam a alimentação massivamente através da acessibilidade dada às chamadas fast foods. Esse tipo de alimentação é responsável não apenas por agilizar processos, mas também por sacrificar a relação interpessoal na produção do alimento a ser oferecido nos lares. Cada vez menos as pessoas cozinham juntas, e cada vez mais o número de usuários de aplicativos como iFood, PedidosJá e, o mais recente, Uber Eats crescem.

   O comodismo do consumidor é o vilão neste caso, a facilidade proposta pelo aplicativo aliado à falta de tempo do cliente, é uma bomba relógio prestes a explodir, e ela fica ainda mais potente com o cardápio oferecido nessas plataformas. “Ele até pode estar com fome e comeria uma salada, arroz e frango, mas ao olhar no aplicativo um hambúrguer com batata frita, achará mais cômodo e prático”, frisa o nutricionista pós-graduando em nutrição clínica, metabolismo, prática e terapia nutricional, alertando sobre as idealizações criadas através da internet.

O FENÔMENO DOS FOOD TRUCKS

   Em tempos de isolamento social e refeições individuais, os food trucks vem se destacando por exercer o caminho inverso dessa via, sendo palcos de eventos e points cada vez mais povoados regados à muita comida e conversa.

   “Minha família não costuma ficar na internet não, hora de comer é hora de comer. Mas acho que isso acontece porque no interior as tradições se mantêm por mais tempo. Mas no meu caso também, no interior de Minas, o acesso à internet também é mais difícil”, completou Renata Urata na sequência da opinião do amigo Gil em frente à um food truck na cidade de São Paulo, dizendo também que ambos estavam ali tomando um milkshake não por comunhão, mas por praticidade.
 

PRATICIDADE X COMUNHÃO

   Praticidade, de fato, parece a palavra do momento, mas que cobra um preço alto pelo status atual. Pelo menos é o que acredita Fernanda Lima, que fez questão de exaltar o quanto a tecnologia impactou seu relacionamento atualmente. “Meu casamento vai acabar por causa do celular, no jantar eu nem converso mais com meu marido por isso. O tempo todo, na verdade, não dá atenção para mim nem para o nosso bebê, mas acho que na mesa é pior”, falou a mulher que vem de uma família acostumada a ter a refeição como momento de comunhão.

   A questão do afastamento gerado pelos smartphones e a internet vai seguir como um ponto duvidoso nos lares brasileiros, e sua relação com a alimentação e a comunhão familiar já vem sendo base de estudos a tempos, algumas delas otimistas.

   Elaine Cristina de Melo Pereira é pós-graduada em gestão de projetos culturais e organização de eventos na Universidade de São Paulo (USP) e em sua tese de doutorado afirma que “a alimentação passou e continua passando por constantes modificações, mas o homem dentro destas constantes mudanças, não deixa de perder o seu lugar à mesa seja este dentro da família, no ambiente de trabalho ou nas festas e recepções”, reduzindo o impacto do celular e da internet à mesa dos brasileiros.

                                                                               mesmos que usam os chamados apps se utilizam dos food trucks.

ANDERSON TEIXEIRA

Mayara Zago

Mayara Zago

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