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Mayara Zago

 “Acho que não dá mais pra separar a aprendizagem da internet”. Foi o que Pedro Rossi, estudante de filosofia da Universidade de São Paulo, comentou ao ouvir sobre o tema de sua entrevista. Ele continuou seu discurso por meio de um exemplo que conhecia bem: sua trajetória.

 “Tenho quatro irmãos. Na época que eles estavam no cursinho, ficavam no andar de baixo estudando juntos. Eu ficava na sala de cima só com meu computador, era assim que eu estudava”, conta Pedro. O jovem mora em uma grande e afastada casa na região da Granja Viana, e passava de cinco a seis horas por dia imerso em sua rotina de estudos.

  É desse modo que muitos jovens optam por ganhar conhecimentos. De acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios 2015, que mede a posse, uso e hábitos da população em relação à tecnologia, 58% da população brasileira possui acesso à internet, número que representa 102

Clarissa Mattos

COMO A TECNOLOGIA MUDA NOSSO RELACIONAMENTO COM O ENSINO

ensino e tecno

  No caso de Rossi, formado na rede pública de educação, o benefício do uso da internet está aliado ao segundo fator determinante na migração para meios digitais: a falta de interesse no ambiente escolar. “Não que eu não me interessasse pelas aulas, mas é que eu não conseguia ficar na escola (...) o ambiente me fazia mal, as pessoas nem queriam aprender”, relata.

  Por causa disso, ele decidiu parar de frequentar as aulas e tirar seu diploma escolar por meio do ENEM, método comum entre alunos de escolas públicas e estaduais. O estudante conta que, quando tomou a decisão, soube que ia ter que estudar muito. “Peguei umas apostilas de cursinho de alguns amigos, e comecei a estudar, né? Mas sempre que tinha dúvida, eu ia olhar na internet”.

Com o tempo, Pedro abandonou as apostilas e passou a se utilizar integralmente do meio digital.     Foi onde conheceu uma grande plataforma de estudos, chamada Descomplica, que o ajudou a conseguir uma vaga na USP. Nesse sistema de aprendizagem, os alunos têm contato com um cursinho online, onde podem acessar aulas gravadas de todas as disciplinas escolares. Alguns adicionais, como a possibilidade de envio de redações para correção e plantões de dúvidas, também integram o site.

                                                                              milhões de internautas em nosso país. Esse acesso se tornou crucial para entender a crescente incorporação de tecnologias ao processo de aprendizado.

EU NÃO CONSEGUIA FICAR NA ESCOLA

As dificuldades da acessibilidade

  No centro de São Paulo mora Gabriel Guedes, vestibulando do curso de Letras com uma trajetória semelhante à de Pedro. Seu sonho é entrar na USP, e ele o persegue também a partir do estudo independente.

  Diferentemente de seu colega, Gabriel terminou o ensino médio frequentando uma pequena escola estadual, mas não o fez com muito orgulho. “Eu era diferente lá [no ensino médio], sabe? Acho que a escola, como as coisas são ensinadas, isso tirou meu interesse”, confessa ao descrever sua vida estudantil.

   Agora, Gabriel diz que gosta de estudar de tudo: desde a filosofia

de Nietzsche até modernas teorias da física. Seu ponto forte é a poesia.“Quando eu me formei, não sabia o que eu queria fazer, aí comecei a ler muito e a escrever, era uma forma de cooperar comigo mesmo e com minhas dúvidas, angústias, essas coisas”. Foi então que ele decidiu que iria cursar Letras.

   Suas poesias começaram a ser publicadas, tanto em sua página pessoal do Facebook, quanto em páginas dedicadas à escrita. Nesse momento, Guedes descobriu o potencial da internet. Ele diz que a partir daí, tudo que leu e estudou foi tirado do meio virtual. Suas plataformas mais visitadas são o Google Acadêmico, para a leitura de artigos, e blogs sobre os mais diversos assuntos.

   Apesar da proximidade e acessibilidade conferida pelo ambiente digital, há alguns pontos fracos e pouco trabalhados no processo de aprender pela internet. Gabriel conta que, no final das contas, acha difícil estudar autonomamente.

   “É que você se distrai muito. Às vezes eu vou ler um artigo e vejo o nome de um autor qualquer, e quando percebo já tô pesquisando sobre a vida dessa pessoa no Google”, admite sorrindo. Ele ainda completa afirmando que, se quiser entrar no curso de Letras, terá que se disciplinar mais do que tem feito, e que tem consciência disso.

 

Para além do ambiente privado

  A iniciativa de alunos e jovens, interessados em utilizar recursos online para estudos, quebrou barreiras e se estendeu para o ambiente formal de aprendizagem. A tecnologia abre espaço para estudos por meio da prática, da execução e da experimentação.

 Para um maior aproveitamento, é necessário que as ações em plataformas digitais estejam relacionadas a uma filosofia construtivista de estudos. Nessa ideologia, o conhecimento é tido como uma construção de significados, não apenas um objeto. Essa construção procura fazer sentido no mundo, ou seja, devemos aplicar os conhecimentos à observação e interpretação da realidade.

 É isso que está sendo feito no Instituto Singularidades, uma jovem universidade de São Paulo, que incorporou o uso tecnológico ao construtivismo, inaugurando diversos métodos inovadores de ensino. Márcia Pereira é professora do curso de Letras, e comanda uma sala de aula em que todos os alunos possuem um notebook oferecido pelo instituto.

 Os computadores são utilizados para tarefas comuns, como a digitação das aulas e o acesso à plataforma de ensino a distância, o moodle. Porém, são em outras tarefas que a tecnologia ganha uma nova função. Márcia conta que existem duas técnicas de ensino pioneiras nas turmas do Singularidades: a sala de aula invertida e as metodologias ativas. 

  A sala de aula invertida é um procedimento de ensino em que o aluno é responsável pelo seu processo de aprendizado. Quando os alunos têm que ler um texto, por exemplo, eles ficam responsáveis por levar impressões da leitura à

                                                                               sala de aula, assim como pela discussão dos tópicos da leitura. “O professor fica mediando, nós damos obrigações em vez de despejar conteúdo em uma aula expositiva”, relata a profissional.

  As metodologias ativas, por sua vez, dizem respeito ao ensino híbrido. Nessa estrutura, a sala é dividida em grupo para discussões sobre um tema. Cada grupo é responsável por um aspecto do tema, assim como por um meio de propagação. Alguns pegam vídeos, outros procuram reportagens, e outros acham artigos acadêmicos sobre o assunto. Em seguida, integrantes de cada grupo se sentam em outras mesas para compartilhar suas pesquisas.

 Márcia conta que os alunos realmente aprendem a ensinar, e que esse tipo de método tem diversas vantagens. “Primeiro que o aluno é protagonista da sua aprendizagem, ele é sujeito, ele se apropria do conteúdo. Depois, que ele vira um professor mais preparado pra lidar com os alunos e com o uso da internet”, reflete.

  As únicas desvantagens são profissionais que não conseguem se acostumar com essa maneira de ensino. Quando o professor não sabe lidar com a tecnologia e com a metodologia, os computadores acabam sendo utilizados apenas para anotações, enquanto a aula continua sendo expositiva. “Aí o objetivo não vai ser alcançado, aí nem vale a pena pagar a mensalidade, né?”, Marcia observa.

  O instituto Singularidades está em fase de testes, o que significa que a maioria dos professores está se acostumando com a rotina de trabalho. Porém, é fato que as propostas desenvolvidas em sala de aula apresentam um grande exemplo de como a tecnologia pode ser entendida e utilizada como uma ferramenta de auxílio na formação.

  Seja por meio da aprendizagem autônoma, por meio da elaboração de aulas preparatórias online ou por meio de universidades completamente integradas ao uso do computador, a tecnologia modifica a nossa relação com os conteúdos do mundo. É isso que os futuros educadores e estudantes devem buscar e estimular.

Sobre A AutorA

Transformação

Victoria Silva

Mayara Zago

Mayara Zago

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