MEUEMPREGO.COM
Maria Clara Lucci
Transformação
Sobre A AutorA
Não é de hoje que a vida do ser humano moderno depende da internet. A nova realidade já exige que você esteja atualizado e online o tempo todo até para cumprir as tarefas cotidianas mais simples, como se orientar pela cidade, namorar e trabalhar.
Segundo a última pesquisa da Associação Brasileira de Estágios, finalizada em 2015, o Brasil tem cerca de 6.633.545 estudantes em cursos presenciais, sendo o estágio obrigatório para a conclusão da formação. Com esse número elevado de possíveis estagiários, a internet se torna uma ferramenta para a procura de vagas.
Douglas Uchida, 21, é estudante de publicidade e começou a procurar estágio no segundo semestre da faculdade. Hoje, no quinto período, foi chamado para seu terceiro processo seletivo através de sites especializados. “Eu tive algumas experiências positivas nos Vagas.com, mas eu sempre busco novos meios, como através do Facebook”, afirma, “Eu não tinha muita fé, até

que alguns amigos meus falaram ‘eu mandei currículo pelo grupo e eu fui chamado para uma entrevista’, e decidi tentar.”
Do outro lado da busca está Eduardo Sales. Produtor da Record que atua há 10 meses como administrador do grupo “Rádio e TV”, voltado para alunos de comunicação. O grupo tem cerca de 7 mil membros e “recebe uma tsunami de currículos”, mas Eduardo ainda recebe mensagens de agradecimento, que posta na página do grupo.
Mas nem todas as experiências na internet são positivas. Rodrigo Barroso seleciona currículos para um escritório de importações há 4 anos e comenta a participação dos candidatos nas mídias: “Na empresa não temos o costume de olhar as redes sociais para não perdermos funcionários”. Segundo ele, o mercado de importações é perigoso e a empresa toma o cuidado com sua exposição e de seus empregados na rede.
“Neste emprego, nunca tivemos episódios de demissão por comportamento na internet, mas já ocorreu no último serviço”, relata Rodrigo, “um dos meus colegas foi demitido por curtir uma página chamada ‘odeio acordar cedo’, a empresa viu nisso uma prova de que ele não fazia o perfil da instituição”, completa.
O QUE NÃO PODE É O ATO DISCRIMINATÓRIO ISSO A LEI NÃO AUTORIZA
VOCÊ É O QUE VOCÊ POSTA
No dia 7 de fevereiro deste ano, um estudante de engenharia de Maringá foi demitido por postagens machistas no Facebook. Em uma das imagens postadas, o estagiário está em seu ambiente de trabalho, segundo a legenda escrita por ele, “analisando a rede de esgoto onde vai passar o discurso das feministas, aborteiras, etc”.
Em resposta às publicações, a Cantareira Construtora e Imobiliária lançou uma nota de esclarecimento dizendo

repudiar as opiniões extremistas do estudante. “Comunicamos que o estagiário não faz mais parte da nossa equipe.”
Até onde uma instituição tem liberdade de entrar na vida pessoal de um candidato, estagiário ou empregado? De acordo com Letícia Braga, advogada trabalhista, não há impedimento legal para que recrutadores acessem os perfis públicos do candidato à vaga. “ Isso também representa o perfil do candidato. O que não pode é o ato discriminatório, isso a lei não autoriza”, explica.
Quanto à posturas semelhantes ao estagiário da construtora, a advogada adverte: “Da mesma forma que se alguém posta algo que não seja de comportamento adequado a sua atividade profissional, isso é um motivo para a demissão, inclusive por justa causa.”
Em junho de 2015 outro caso virtual chamou a atenção de usuários das redes sociais. Um empregado foi demitido por justa causa após curtir o comentário negativo de um ex-colega sobre a proprietária da instituição. Esse foi condenado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª região, em Campinas - SP e teve sua punição validada pela Vara de Trabalho da cidade.
“Isso é sem dúvida um precedente na nossa jurisprudência”, afirma Letícia Braga, “a CLT considera falta grave o ato lesivo a honra, salvo em casos de legítima defesa.”