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O SER DIGITAL

Lucas Capeloci

o ser digital

Sobre o Autor

Vínculo

  Uma tortuosa linha tênue entre vida real e virtual está cada vez mais evidente com o avanço dos meios digitais. A dependência tecnológica e as pendências pessoais acabam se convergindo no dia a dia. Situações cotidianas de fragilização humana são aliviadas pelo uso da internet.   “Tanta gente ON com o coração OFF, muito touch na tela e pouco toque na pele. Muitas visualizações no facebook, poucos olhares face a face". Existe na sociedade uma dependência psicológica e comportamental de fuga da realidade social e emocional, substituindo-as, pela satisfação do ego através do mundo virtual.   Eduardo Fraga, professor e graduado em psicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, elucida o assunto dizendo que nosso ‘eu’ vem se tornando cada vez mais público, além de necessitarmos do olhar do outro para referendar aquilo que julgamos ou ao menos aparentamos ser.  

  Convergem nessa temática, dois aspectos que circundam a sociedade. O isolamento associado com o “ter” e o “ser”. Guy Debord traz a tona em ‘A sociedade do espetáculo’, a necessidade de sonhar neste mundo capitalista, em que separa o trabalhador de sua produção, onde se vive um mundo de aparências. Já em ‘A cultura do narcisimo’ de Christopher Lasch, compreende a forte tendência narcísica contemporânea, na qual assumimos novos papéis ao invés de possuí-los.   Sylvia van Enck Meira, psicoterapeuta no Núcleo de Dependências Tecnológicas do IPQ no Hospital das Clínicas, argumenta sobre tal ego: “Existe um retorno de conquista nas redes sociais, além de você ter amigos do mundo todo”.   O professor, especializado em Teoria Psicanalítica pela PUC, também expõe tal ponto: “Somos subjetivados a partir do olhar do outro, em uma cultura que valoriza a imagem, a busca desse olhar pelas mídias sociais se torna constante. Quantas pessoas curtem o que posto? Quantas me curtem? Como sou reconhecido pelo outro?”

EXISTE UM RETORNO DE CONQUISTA NAS REDES SOCIAIS

É evidente neste meio, a facilidade e vantagens no processo comunicacional, seja para relacionamentos interpessoais ou profissionais, sendo indispensável nos dias atuais, porém, muitos indivíduos acabam fazendo um uso abusivo de suas funções.  A Psicóloga Clínica pela PUC e Mestre em Psicologia Clínica pela USP, alerta e diz em que momento este uso pode se tornar patológico, e virar uma doença; “Quando a pessoa começa abrir mão das atividades de rotina, não consegue frequentar a escola ou trabalho, e o convívio com a família e amigos começa a ficar prejudicado”.   Vida real e virtual é um tema em constante debate.

Não podemos afirmar que o “real” é melhor que o “virtual”. O ponto que deve ser discutido reside na forma, na dinâmica que a pessoa estabelece com a virtualidade. Podemos fazer uma analogia com as drogas, pois se trata de uma mesma dinâmica aditiva. Nós temos o uso, abuso e dependência de droga. Não só as licitas, mas como ilícitas. O mesmo vale para internet.

  A relação intrínseca entre esses dois contrapontos é muito mais problemática que imaginamos, ela é causadora de prejuízos interpessoais, tal como procurar um parceiro(a) para namorar somente pela internet, ou a ausência de um diálogo presencial com amigos e familiares desejável e tão fluente como nas redes. 

  “Muitas pessoas conseguem manter um relacionamento amoroso pela internet, pelo Whatsapp, Skype, seja por vídeos chamadas, fotos, smiles, porém quando entra em contato presencial com o outro, percebe que o próprio vocabulário não é o mais apropriado, as pessoas perdem o hábito de relacionamento pessoal”, esclarece a psicóloga no grupo de dependência tecnológica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.   

  Sylvia ainda disse que o trato comum entre pessoas acaba ficando genérico, em que as emoções ficam por conta dos smiles, e você nunca sabe o que as elas estão sentido verdadeiramente uma pela outra. E já no contato telefônico e presencial, você consegue compreender e interpretar, seja pela voz ou por gestos o sentimento do outro.

   Ela ainda relata um pouco sobre o tratamento. As pessoas que ali estão, passam por entrevista e análises clínicas para identificar o tipo de patologia oriunda da internet que ela está passando. Como depressão, déficit de atenção, hiperatividade, ansiedade e outros indícios de transtorno, chamada comorbidade. O grupo se reúne semanalmente e não possui um limite de faixa etária, mas sua média está entre 18 a 25 anos. 

  A terapeuta ainda enunciou sobre os casos mais graves que presenciou no projeto de recuperação:  “Foi de jovens ameaçando suicídio ou muitas vezes violência aos pais quando os mesmos o tiram da tecnologia que está usando”. Ela conta também que o uso mais sério de dependência são os jogos online, já que eles são programados justamente para levar a uma submissão da internet em tempo real.

                                                 usuários/dependentes e um aberto ao público onde os pais ou responsáveis tiram dúvidas a respeito de possível doença contida em um conhecido. “Se a família não obtiver conhecimento, compreensão e um olhar para os outros recursos que o filho possui e não usa, fica difícil ter um tratamento completo".

   A internet não é nociva em si, mas pode proporcionar um uso patológico, um conflito entre virtual e real, uma falta de comprometimento social para com o outro, com consequências graves para determinados usuários que estejam em situações fragilizadas e se utilizam da mesma para alívio dos problemas, sejam eles derivados do ódio, angustia, ansiedade ou até mesmo ações narcisistas.

“Hoje se você tem um problema com os pais, você coloca um fone de ouvido e se exclui no computador, e eles sentem-se impotentes com esse embate”, conclui a psicóloga sobre essa discussão e brigas entre pais e filhos.   Uma das soluções deve ser a dosagem de tal uso e sua instrução desde cedo pelos pais, para que os filhos, já pequenos, não se desenvolvam somente conectados na internet sem relações de contato.    Uma pesquisa realizada pela AVG Technologies aponta que 66% das crianças entrevistadas entre 3 a 5 anos conseguiam usar jogos de computador e internet, e apenas 14% de amarrar os sapatos sozinhos.

 Sylvia Meira também revela essa preocupação com o aprendizado infantil: “Muitas crianças crescem sabendo mais mexer no celular do que formular uma frase”.    Ela também relata a presença de mais dois grupos em que coordena no centro do IPQ, o dos pais dos 

Mayara Zago

Mayara Zago

Mayara Zago

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