O SENTIMENTO INDESTRUTÍVEL?
Relacionamentos
Mayara Zago
O foco desses roteiros está, principalmente, na sensação de amar uma pessoa e segundo a psicóloga Leila Tardivo, 62, a busca é pela felicidade. Onde, especialmente os jovens a idealizam e projetam isso em como vão ser seus relacionamentos, o que acaba muitas vezes por criar uma figura idealizada, podendo ou não partir do mundo ficcional produzido pelas mídias.
Jaqueline ainda vê toda essa ideia como um ponto de partida e enxerga como uma forma de atrair o espectador, a qual mesclam-se outras ideias, para não se tornar algo previsível.“O diretor fugir do clichê é explorar bem a personalidade dos personagens e dar a eles uma vida e mostrar que as pessoas são diferentes e eles tem problemas, sonhos e muitas outras coisas”, conclui ela.
Idealização
O fato de buscar alguma coisa que não se tem em casa ou o querer algo a mais, já pode ser motivo para enxergar o mundo de determinada forma. Irrefutavelmente podendo ser um tipo de

O amor é uma ligação, estado de espírito. É arte. No cinema possui um gênero próprio: o romance. Discriminado por tratar, muitas vezes, de maneira distante do real a vida amorosa de um casal, que se sobressai por tentar transmitir algo indescritível. “O amor não precisa ser só aquele sentimento super intenso, que vai dominar todo o seu ser. Pode ser uma coisa construída com o tempo”, comenta Jaqueline Cornachioni, 22, redatora do site Cinematecando.
O amor é um sentimento e muitas vezes se confunde com a forma de agir. As pessoas o colocam como maior prêmio e normalmente se utilizam dessa desculpa para traçar um comportamento. Sensação, vontade, desejo e necessidade são algumas das fases em que uma pessoa apaixonada pode se encontrar e o cinema demonstra muito isso.
Ao se pensar nessas relações, retratadas nos filmes, o conceito que mais chama a atenção é o clichê, a mesmice. Indicado
como estar presente principalmente nos finais de cada filme, mas que não são necessariamente algo ruim.
A GENTE IDEALIZA O QUE A GENTE QUER DAQUELE RELACIONAMENTO




influência para escolher um par romântico.
Rodrigo Augusto Prando, 39, professor de sociologia e política da Universidade Presbiteriana Mackenzie acredita que o repertório e a maneira como as pessoas se desenvolvem ao longo da vida, sua socialização, determina muito se uma pessoa enxergará um produto cinematográfico como tal. Ou seja, se ela não confundirá a realidade com o ficcional. Essa visão ilusória pode acarretar em idealização, que na verdade não passa do lugar em que colocamos uma ideia ou pessoa. Isso pode provocar problemas psicológicos, como o amor patológico ou até mesmo o platônico. No primeiro
Relacionamentos e o cinema nos dias de hoje
O filme 500 dias com ela por exemplo tem um enredo baseado na expectativa e realidade em um relacionamento. Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt) vive momentos que aparentemente para sua parceira, Summer (Zooey Deschanel), são normais, mas que em sua cabeça significam outra coisa. É interessante observar que nessa obra em particular, apesar de sua temática ele não se autointitula um filme romântico, mas uma história sobre o amor.
A demanda pelo conteúdo romântico é muito grande, pois é um campo, que mesmo com várias críticas está sempre sendo fomentado com histórias diferentes. Percebe-se no mercado de hoje, uma tendência cada vez mais frequente de assuntos um pouco menos idealizados no gênero. Fato que se deve talvez pelo consumo cada vez maior de temas ligados a superficialidade dos relacionamentos causada pela tecnologia.
Estão sendo feitas produções para a TV a partir desse problema, como o Catfish. Um programa com o intuito de ajudar pessoas que se gostam e conversam através de salas de bate papo e pelas próprias redes sociais, a se encontrarem na vida real. Estreou em 2012 nos Estados Unidos e é baseado em um filme de mesmo nome e trama.
“Por um lado facilita, num sentido que quantitativamente você aumenta muito o número de pessoas com as quais você pode se relacionar, mas também pode ser um fator limitante, porque o torna superficial”, explica o professor Rodrigo sobre essas interações digitais.
caso, o individuo coloca seu parceiro em um ponto muito alto, gerando cada vez mais dependência, como se aquele individuo fosse essencial e todas as atividades tivessem de ser voltadas a ele.
Semelhante mas não idêntico, o platônico também é uma consequência da idealização, podendo também ser alimentado pelos filmes. Uma coisa não existe, mas que na cabeça da pessoa está ali, presente o tempo todo. “A gente idealiza o que a gente quer daquele relacionamento”, complementa Talita Crespi Gonçalvez, 29, redatora dos sites Entre todas as coisas e BoxPop.
Ainda segundo ela, nos filmes, geralmente mesmo as pessoas sendo muito diferentes, elas vão se relacionar e dar super certo. No final todo mundo vai ser feliz, mesmo que para isso alguém tenha que abrir mão de alguma coisa. O que é negativo tanto para os envolvidos quanto para a relação dos dois.
Esses tais aplicativos de paquera são como uma vitrine de corpos interessados em uma ou várias conexões, podendo ser elas por anos ou mesmo por uma noite. E o número de aplicativos com essa função vem aumentando; partindo da ideia de conectar as pessoas.
Contudo, muitas vezes essa facilidade acaba por causar certo destoamento na hora de canalizar esses sentimentos. Onde pode ser observado através de várias pessoas, que se dirigem a esses aplicativos em torno de uma busca incessante por alguém perfeito.
A aparência, o visual e o querer ser acabou se tornando o pior mal do século 21 para quem quer se envolver. A busca pelo par ou vida perfeita é muitas vezes motivada a partir de um ideal de beleza, deixando de lado a conexão psíquica e emocional presente quando duas pessoas se encontram pela primeira vez pessoalmente. O seriado britânico Black Mirror tem demonstrado
isso, tendo sido capaz de gerar vários questionamentos em seu espectador. A mensagem é implícita, mas basta olhar ao redor e entender a maneira como a tecnologia afeta e pode afetar os relacionamentos, que é fácil perceber o porquê daquilo estar sendo discutido.
Um dos episódios que mais chamaram a atenção nos últimos meses foi o Nosedive, o primeiro da terceira temporada, que traz um mundo através das redes sociais. A personagem se vê cada vez mais dependente da avaliação alheia, acarretando no desfecho do episódio: uma pessoa vazia dependente da imagem que os outros possuem dela.
Não só nesse episódio, como vários outros, o seriado mostra o quão dependentes e idealizados ficamos com as facilidades geradas tanto pela tecnologia quanto pelo fácil, deixando os sentimentos em segundo plano.
O sentimento ou um sentimento?
O mundo cinematográfico tenta copiar o real, explora diversas maneiras de retratá-lo e isso não podia ser diferente ao se pensar no amor. Como já dito, de alguns anos para cá, os roteiristas e diretores têm se aprofundado em uma perspectiva mais parecida com o real possível.
A vida real é assim. Brigas; desentendimentos ou até a falta do sentimento acaba por fazer com que uma relação não dê certo. Mas, apesar de tudo isso, o amor é um sentimento indescritível. Sim, ele pode acabar, mas ele também pode nascer. “Eu acredito que exista uma pessoa que você vai amar para a vida toda, não que ele seja eterno também, mas eu acredito que tem pessoas que você ama por um período específico”, comenta Talita.
É difícil entender o que não é passível de conhecimento. É difícil entender como a vida pode influenciar na concepção e no vínculo que cada pessoa tem com os próprios sentimentos, mas é importante ressaltar a importância do agora e principalmente do depois, pois como já disse Jaqueline: “A Nossa vida não é uma coisa previsível, ela não é um roteiro que ta no meio e eu já sei o final”, conclui.