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COMUNIDADE IMAGINÁRIA

Tayná Medeiros

comunidade imaginaria

Sobre a Autora

Vínculo

 “Eu estava cansada de sentir medo e muitas pessoas dos grupos se mostraram muito corajosas contando suas experiências. Eu queria possuir a mesma coragem”, conta Larissa Paglia sobre o incentivo que teve para se abrir em grupos que frequenta nas redes sociais.

   Muitas vezes, as pessoas entram em grupos com a ideia de preservação. Com os rostos atrás de aparelhos, as pessoas podem ser quem são e opinar tranquilamente, sem precisar enfrentar o olhar crítico que encontros presenciais podem fornecer. Aparentemente, o que é escrito não é tão ofensivo e as telas podem ser grandes máscaras que nos protegem do sentir.

 Este é o caso de Larissa que diz já ter desabafado em grupos por temer a forma que seus amigos analisariam a situação. Se olhariam para seu problema de uma forma imparcial e neutra, ou fariam ligações baseadas em conceitos já estabelecidos por sua história.

   A palavra comunidade, remete à um estilo de

                                                                              vida entre pessoas em um determinado território, sob um governo comum e partilhando uma ideologia ou herança cultural. Pode se dar também por uma luta social, vivência traumática ou orientação sexual.

   Com a inserção das redes sociais, grupos com temáticas semelhantes começaram a ser criados e estabeleceu-se uma ideia de pertencimento e identificação sobre estes, mas que são puramente imaginários, por não se encaixam nas definições sociológicas e antropológicas.

   Desde então, os relacionamentos com completos estranhos, se iniciaram com mais facilidade no mundo das redes sociais e aplicativos. No entanto, isso não significa que em sua maioria eles sejam aprofundados, muitas vezes só acaba restando uma pessoa a mais no número de amigos ou seguidores.

   A psicóloga Welleny Gomes Bravo, fala sobre os relacionamentos contemporâneos “Vivemos em uma época muito narcísica, muito individualista. A partir da implementação das mídias sociais, parece que a simplificação do tempo teve um sinônimo de isolamento também. Portanto, como seres humanos, precisamos uns dos outros, mas nos poupamos de aprofundar relações”.

A EMPATIA 

É TÃO GRANDE QUE É MUITO

 FÁCIL A 

GENTE SE 

RELACIONAR

 Na internet, os grupos seguem uma linha diferente do conceito tradicional de comunidade, os membros não se isolam da sociedade, nem mesmo se aprofundam em suas relações, tratando apenas sobre aquilo que partilham. Com essa nova definição, um objetivo em comum é subentendido nos grupos formados, a ideia de ajuda mútua.

  “A ajuda vem pela internet de todas as maneiras, mas se for pedido para que essas pessoas se encontrem, elas preferem não se encontrar. Porque a questão do contato pressupõe hoje você mostrar o quanto ainda é frágil enquanto ser humano” explicou a psicóloga.

  Madinny Manfrim faz parte do grupo de WhatsApp, Rolê das Mães. Ela diz sentir-se acolhida em grupos sobre maternidade, espaço onde é possível encontrar desde mães de primeira viagem, que ainda estão esperando seus bebês, como também as mais experientes. Elas se ajudam dando dicas, apoios emocionais e até financeiros.

  Madinny acredita que esses grupos existem na verdade, por uma fuga do discurso de ódio e busca de compreensão.

  “Em grupos de apoio às mães, a empatia é tão grande que é muito fácil a gente se relacionar com as outras mulheres, quase natural”, disse ao ser questionada sobre como se dá a relação entre os integrantes por não se conhecem direito.

  Já Luiza Lima, faz parte do Clube de Leitura Feminista e outras comunidades de discussões sobre gênero. Se mostra positiva com essas interações virtuais e acredita que o cenário pode melhorar quando encontramos pessoas em situações semelhantes às nossas, já que assim, “são muitas cabeças pensando em uma solução para amenizar qualquer problema”, diz ela.

  Declarou acreditar que há uma necessidade natural dos seres humanos de um espaço para se abrirem “sem manchar a imagem”. E que quando o encontram e sentem-se seguros com as pessoas ali, criam rapidamente uma intimidade. Porém, acha irônico o fato de nem sempre isso ocorrer em conversas e relações presenciais.

  Outro tipo de grupo formado com essa proposta, é o Ogros Veganos. São pessoas que aderiram à dieta e ideologia vegana. Lá, postam sobre como isso afeta seus cotidianos, as pessoas com quem convivem, receitas, dúvidas, curiosidades, informações e entretenimento sobre o tema.

  Ana Carmo, integrante ativa do grupo, diz que “Sem dúvida, os grupos são meu apoio diário de conhecimento e luta pelo veganismo. É difícil conversar e desabafar sobre o tema com quem não acredita ou segue a mesma ideologia. Por isso, a rede social é uma ótima oportunidade para se conectar com pessoas que pensam como a gente”.

 Em relação às questões da ascensão da tecnologia nas relações humanas na atual conjuntura, a psicóloga considera haver pontos positivos e negativos. Pelo lado positivo, a formação de opinião e facilidade para a informação, abrem a consciência sobre temas e assim, propiciam o conhecimento e aprofundamento dos assuntos. Pelo lado negativo, a segregação imposta por essas comunidades geradas apenas com opiniões iguais, provoca intolerância aos que não partilham dos mesmos pontos de vista ou vivências, contribuindo para discursos de ódio.

  Welleny encerra seu raciocínio, dizendo que diante deste crescimento cavalar dos meios sociais, estamos na febre do novo, mas acredita que conforme for se normalizando, as pessoas tenderão a necessitar de encontros presenciais para suprir todo esse isolamento causado.

Mayara Zago

Victoria Silva

Diane Nascimento

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