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COMBINAÇÕES FRAGMENTADAS

Victor Melo

tinder

Sobre o Autor

Relacionamentos

 Marcar um encontro pelo valor do patrimônio, porte físico ou fetiches em comum? De qualquer forma, já é possível fazer algumas escolhas antes mesmo de conhecer a pessoa. E se a combinação não acontecer em um aplicativo, talvez dê para tentar em outro. Afinal, segundo uma pesquisa feita pelo Global Web Index sobre o perfil dos usuários do Tinder, um dos aplicativos mais populares de relacionamentos, 70% deles usam outras plataformas virtuais do tipo para conhecerem parceiros.

 “Tem aplicativo que as pessoas querem mais sexo, [outros] onde as pessoas buscam conhecer mais afetivamente. Mas depende muito de cada um”, conta Lucas Ferreira, auxiliar administrativo que diz já ter usado vários deles como Happn, Badoo, Grindr, Hornet, Scruff, Boyahoy e o próprio Tinder.

 Em alguns desses, os parceiros podem ser escolhidos por características como idade, cor e às vezes até mesmo por fetiche. Outro exemplo é

                                                                                    o Meu Patrocínio, um site feito para que pessoas com grande diferença de idade possam se conhecer, com o detalhe de que já no perfil a mais velha indique qual o valor do patrimônio dela.

  Lucas acredita que alguns desses aplicativos “tendem a provocar mais dependência nas pessoas. Fica esse círculo vicioso de ficar querendo sexo fácil”. Apesar disso, ele diz que na maior parte das vezes os usava somente para conversar, mas que em seus acessos acabava tendo sempre “a mesma conversa com todo mundo, todos buscando a mesma coisa”. Dessa forma, embora usasse várias vezes ao dia, sempre excluía os aplicativos... e voltava a instalar.

  Sebastian Netto, jornalista, teve experiência semelhante. Novo na cidade de São Paulo, usava os aplicativos como forma de tentar fazer amigos com os mesmos gostos que ele. Embora tenha funcionado em alguns casos, o que mais via era um “dialeto bem comum” e pessoas interessadas somente em sexo: “Por isso excluí minhas contas”. Para ele, as relações entre as pessoas estão a cada dia mais virtualizadas: “a paquera não existe mais como antes”.

A GENTE IDEALIZA O QUE A GENTE QUER DAQUELE RELACIONAMENTO

Relações breves

   Maria* Jelic, estudante de Radiologia, chegou a usar o Meu Patrocínio, mas como forma de brincadeira. Ela, que já acessava o Tinder, percebe diferenças na forma de se comunicar dos usuários de ambas as redes. A estudante diz que os do Meu Patrocínio são mais educados, enquanto no Tinder “a galera já chega na voadora, quer transar e tudo”.

   Apesar disso, considera como se o site fosse para “relacionamentos de 1903” e continua preferindo o aplicativo. Mas assim como Lucas, Maria* dispensa a facilidade de encontros dos aplicativos e acha 

melhor conversar com a pessoa antes de conhecê-la: “Às vezes ela é um completo idiota. Eu não quero ir encontrar e descobrir isso depois que eu já estiver lá”. Acrescenta ainda que apesar do propósito dos aplicativos, o que eles proporcionam “são só relacionamentos breves, para conhecer pessoas quando se está meio entediado”.

  O problema de André Silva*, estudante de Direito, era o oposto. Ele trabalhava como estagiário e precisava pagar o aluguel que dividia com os amigos, então não sobrava muito dinheiro para encontros. Assim, ficava duas ou três semanas conversando pelo Tinder ou pelo Happn “enrolando” até que seus contatos ficavam “de saco cheio” e tomavam alguma atitude.

 No final das contas, paravam de falar com ele de vez ou finalmente aceitavam ir para o seu apartamento: “porque via que comigo não ia conseguir sair”. Ele diz que praticamente todas as experiências que teve com os aplicativos foram casuais.

  André conta de uma vez em que deixou uma garota esperando onde ele dormia, que era um quarto de empregada, e foi tomar banho. Quando voltou, ela tinha ido embora e deixado uma mensagem dizendo “nessa ***** eu não vou dar”.

Gueto virtual

   Mas nem só de grandes quartos e altos patrimônios se nutrem as expectativas das pessoas. Nos aplicativos voltados ao público gay, por exemplo, é possível encontrar inúmeros perfis de usuários que se descrevem como “macho, discreto e fora do meio”.

   “E o que é o gay padrão e bem aceitável? Bonito, musculoso, branco, que pensa como macho, se comporta como macho, fala como macho”, critica Rafael Guerche, diretor de arte, que considera isso como “o dispositivo mais homofóbico do meio gay”. Afinal, essa seria uma forma de reproduzir as normas heterossexuais dentro do grupo social, como se todos os homens precisassem comprovar incessantemente a própria masculinidade. Ele diz já ter percebido que mesmo quando o parceiro é passivo há uma tentativa de esconder isso, de modo que a pessoa só revela o jeito real de se expressar depois de um tempo: “como se o passivo fosse o pior lugar para o gay dentro desse universo”.

São Carlos um artigo após analisar e entrevistar usuários de salas de bate-papo gay, que ele chama de “armário ampliado”. Na época, o autor já percebia essa tendência dos usuários em enfatizarem a própria masculinidade.

Seu estudo aponta ainda que quando os contatos se tornavam relacionamentos no mundo fora do virtual, muitas vezes eram escondidos. Para ele, essas redes são um novo tipo de gueto onde os gays se relacionam longe do espaço público, fazendo com que a heterossexualidade se mantenha como único padrão a ser aceito e visível.

Quem é essa pessoa?

   Além da academia, também a edição e os ângulos das fotos ajudam a construir uma imagem que não necessariamente condiz com a pessoa na realidade. Lucas, Rafael, Maria** e André* dizem já ter passado pela experiência de encontrar com alguém que pessoalmente era muito diferente do perfil virtual. O resultado disso foram encontros frustrados e em alguns casos até mesmo interrompidos.

   Rafael descreve o aplicativo como “representação de um mundo normativo e ideal”. Para ele, essas mídias estão cada vez mais presentes nas vidas das pessoas mesmo durante encontros e contatos reais. Acrescenta que “é o mesmo jeito de se comunicar, o mesmo jeito de se falar com o outro, o mesmo jeito...”, mas sua frase fica suspensa no ar.

   Um celular toca ao fundo do áudio em que Rafael responde à última pergunta da entrevista e ele solta o botão do Whatsapp. Seja lá o que ele fosse dizer, fica fragmentado, sem um fim exato. Mas sua interrupção transmite a mensagem com mais nitidez que qualquer palavra que ele pudesse usar.

   Rafael já usou o Hornet tanto para encontros pessoais quanto para divulgar sua peça de teatro, um manifesto contra a homofobia em que todos os atores interagem nus. Em alguns casos chegou até mesmo a chamar alguns dos contatos para posar nos ensaios fotográficos das peças. Por conta da abordagem pouco convencional, ele é bem direto, mandando todos os links de seu trabalho e marcando de tomar um café antes de convidar para o projeto.

Embora seja cuidadoso profissionalmente, no âmbito pessoal o diretor tem uma visão negativa sobre a hesitação das pessoas em marcar um encontro. Para ele, isso é uma forma delas continuarem se escondendo por trás dos avatares, sem se arriscarem a mostrar quem são realmente.

   Mas nada disso é de hoje. Em 2009, Richard Miskolci publicou pela Universidade Federal de 

Mayara Zago

Victor Melo

Victor Melo

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