Victória Silva
AS REDES SOCIAIS E O CONTROLE EXCESSIVO DA LIBERDADE
Sobre a Autora
Excesso
Bruna Hipolite, apanhava da namorada. “Meu celular estava sempre na mão dela e se eu pegava, apanhava”. Apanhava física e psicologicamente. Quando outra menina comentava suas fotos nas redes sociais, dizia que ficava com ela “por dó, porque sou feia e ninguém me queria”. Um ano depois, aos 26 anos, Bruna tem dificuldades de se relacionar com novas pessoas e faz tratamento psicológico.
Tente fazer uma pesquisa no Google com a frase “inconformado com o fim do namoro”. Deixe que o próprio Google te conte a triste realidade de mulheres assassinadas, sequestradas e agredidas por terem um relacionamento abusivo.
O ciúmes é um sentimento comum em relações, mas quando se torna abusivo ele passa a ser uma doença psíquica conhecida por Ciúme Patológico. Neste caso, estão os parceiros que ligam constantemente, implicam com roupas, seguem ou até mesmo contratam detetives,

controlam redes sociais, ameaçam, agridem e chegam a matar seu parceiro.
Confiar completamente no outro e deixar a insegurança de lado parece ser uma das coisas mais complicadas dentro de um relacionamento, atualmente.Uma pesquisa de 2013, da Universidade do Missouri (EUA), concluiu que pessoas que navegam por mais de uma hora na rede social têm relações mais turbulentas.
Apesar de não existirem dados concretos, o ciúme por causa de publicações ou conversas privadas no mundo das redes, é um fator constante em depoimentos após términos de relacionamento.
A tecnologia abre espaço para que pessoas terceiras dentro das redes sociais possam comentar sobre os relacionamentos alheios. Gabryela Araújo, 20 anos, conta que só percebeu o controle excessivo quando seus familiares começaram a dizer que ela estava diferente. “Controlava horários e vezes que entrava em redes sociais, a ponto de colocar limite de horário para ficar mexendo em Facebook, Whatsapp e outros meios de comunicação”, conta Gabryela sobre sua relação.
MEU CELULAR ESTAVA SEMPRE NA MÃO DELA E SE EU PEGAVA, APANHAVA
Por outra lado, os contatos das redes sociais podem acompanhar a evolução ou degradação dos casais, segundo André Almeida, que teve um relacionamento no qual precisou excluir e se afastar de diversas pessoas. Para ele, as redes sociais trazem uma praticidade maior para encontrar preocupações em relação ao ciúmes, por exemplo “ela mexeu em um perfil”, “saiu com outra pessoa”, “foi marcado ou comentou em algo”. “Faz com que ambos busquem o passado sem questionar, deixando a entender o que seu conhecimento raso vire realidade plena”, argumenta André Almeida sobre

como nosso passado está exposto no mundo virtual.
A saída desse tipo de relação parece fácil, entretanto o término de um relacionamento abusivo nem sempre é simples, no Brasil as mulheres jovens são as maiores vítimas de relacionamentos abusivos. A pesquisa do DataSenado, 2013, diz que 30% das mulheres não confiam nas leis e nas medidas formuladas para proteção feminina.
A internet pode ser um fonte rica de informações que podem ajudar pessoas nessa situação. Além do alerta que amigos e familiares podem fazer, existem diversos artigos, publicações e blogs que ajudam as vítimas a entenderem o que estão passam e como podem sair deles.
As vítimas que superam o trauma dessa relação, também passam a ser fonte de inspiração para pessoas que estão vivendo algo semelhante. “Quando eu terminei esse relacionamento várias pessoas vieram falar comigo, então eu virei um espécie de ‘porto seguro’ para elas.”, conta André.
Todo apoio e orientação conta na hora da superação, pois as marcas deixadas após essas relações com abusos psicológicos e físicos, podem levar as vítimas a terem problemas como baixa auto estima e depressão. Dentro do ambiente virtual existem grupos de pessoas que nunca se conheceram mas passaram por situações em comum, esses grupos são espaços de apoio e suporte para quem precisa conversar. Poucas pessoas sabem, mas existem grupos de psicólogos online disponíveis para conversar através de chats, alguns sites oferecem serviço gratuito.